Era uma Senhora de olhos fechados, só respirando. Deitada. Vinha Dona Carminha (90 anos) e passava a mão no cabelo dela, arrumava a roupa e fazia carinho nas mãos. Teve uma hora que Dona Carminha começou a falar, dizer que elas são amigas à 60 anos mas depois de um AVC Dona Inacinha (85 anos) não andava, nem falava nada e nem abria o olho.
Dona Carminha: - Tudo meu era com ela. E tudo dela era comigo. Saudade é uma coisa que não morre. Eu tenho saudade do abraço dela, de ouvir a voz dela.. de dizer as coisas, de ouvir. Ela é muito minha amiga, uma irmã mesmo. Inacinha é minha irmã. Quando ela se casou veio pra uma festa de São João aqui na cidade, eu já morava aqui porque já era casada. Foi um belo São João, amanhecemos o dia dançando quadrilha no meio da rua. Foi lindo!
*ela chega perto e começou a cantar* Nosso amor que eu não esqueço e que teve o seu começo numa festa de São João/Morre hoje sem foguete sem retrato, sem bilhete sem luar e sem violão/Nunca mais quero seu beijo mas meu último desejo você não pode negar/Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga se você me quer ou não/Diga que você me adora que você lamenta e chora/A nossa separação e às pessoas que eu detesto diga sempre que eu não presto/Que meu lar é um botequim que eu arruinei sua vida e eu não mereço a comida que você pagou pra mim.
*pega na mão de Dona Inacinha* Inacinha! Inacinhaaaa! Tá ouvindo? Tá? Fale! Fale!
Dona Inacinha abriu o olho e soluçou, depois caíram duas ou três lágrimas de cada olho.
- Fala Inacinha! Tu ta ouvindo? Aperte minha mão! Quer apertar não? Tá bom! *ai Inacinha puxou a mão de limpou o rosto* [...] nunca vou sair daqui. Vou cuidar dela até... até. Minha amiga, ela é minha amiga, mesmo que uma irmã. Tenho saudade de pedir "abença" a minha mãe e ouvir o 'Deus te abençoe'.
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Acabou. Eu chorava tanto! tanto! Que eu solucei! Muito, mas muito lindo! Belíssimo. Belíssimas.
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